domingo, 29 de junho de 2008

Chika Licious


Lembro dos meus primeiros dias em NY, perambulando pelas ruas do East Village, me encantando com cada café ou restaurante que via, um mais charmoso do que o outro. Mas teve um lugar em particular, que realmente me capturou.

Ficava a poucos metros do nosso apartamento e tinha sempre fila na frente. Demoramos meses até que, numa nevasca de janeiro, quando a cidade inteira parecia dormir, finalmente conseguimos entrar.  E, desde então, tenho o Chika Licious não só como um dos meus lugares favoritos em NY, mas também como um business model que passei a admirar.

Quinta-feira passada, casualmente me vi ali em frente às 3 da tarde em ponto, quando eles estavam abrindo, e não pude deixar passar a chance de degustar das delícias da Chika.

Fui a primeira a chegar, mas em poucos minutos, já estava cheio. Considerem que a capacidade máxima ali são 20 pessoas. Me sentei no balcão para poder observar de perto a Chika, chefe e proprietária; e Chris, seu auxiliar, que cortava pacientemente gelatina de manga em cubinhos perfeitos. Enquanto me distraía com o trabalho minucioso do Chris, Don, que é o sommelier, me trouxe o cardápio do dia.  Seis sobremesas e uma seleção de queijos é tudo o que se tem para escolher, mas decidir nunca pareceu tão difícil.

Enquanto estudava minhas opções, Chris me alcançou um amuse, que eu gosto de traduzir como um agrado.  What is this? – eu perguntei. “Lemongrass sorbet with star anise gelatin. Confesso que nunca fui muito fã de anis estrelado, mas a combinação do sorbet com gostinho ácido de limão e a gelatina de anis ligeiramente doce, é sem dúvida campeã.

Me decidi por uma sobremesa com damascos frescos: Seared Black Velvet Apricot on Vanilla Anglaise and Basil Sorbet. Aproveitei para observar cada passo da Chika e pude ver de perto a preparação da minha sobremesa. 

Ela começou cortando o damasco ao meio, retirou o caroço, polvilhou cada metade com açúcar mascavo e, com o maçarico, criou uma superfície crocante sobre os damascos. Pegou um prato limpo, cuidadosamente colocou uma camada fina de creme de baunilha, posicionou os damascos sobre o creme e finalizou com uma quenelle de sorbet de manjericão. E voilà!

É difícil de acreditar que algo tão simples, possa ser tão delicioso. O damasco estava doce e suculento e a crosta de açúcar mascavo o tornava ainda mais especial. Quando misturado com o creme de baunilha e o sabor fresco do sorbet de manjericão, então....uhmmm... isso sim se pode chamar de uma mordida perfeita!

Mestre Chika em ação...

E para fechar com chave de ouro minha tarde super extravagante, ainda pude degustar uma seleção de petit fours do dia: coconut marshmallowdark chocolate chip e apricot pound cake. Comi até os farelos....

O Chika Licious é fruto de uma combinação muito especial: Chika, pastry chef experiente nascida no Japão, que trabalha com maestria a arte das culinárias japonesa e francesa; e Don, seu marido, gerente e sommelier, que seleciona os vinhos e os combina com cada sobremesa, além de receber os clientes com um sorriso pra lá de especial que me faz sempre querer voltar.

A cada dia, Chika prepara novas combinações, inspirada nos ingredientes da estação. O preço é fixo: $12 pelo amuse + escolha de uma sobremesa + seleção de petit fours. Para degustar o vinho que Don selecionou especialmente para aquela combinação de sabores, são extras $7. Uma verdadeira barganha! O cardápio também inclui chás e cafés, além de uma lista de vinhos e espumantes.

Chika Licious

203 East 10th Street

New York, NY 10003

www.chikalicious.com


segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um biscoitinho nunca é demais....



Não importa quanto eu coma, tenho sempre espaço para um biscotti, um cookie ou um petit four depois do almoço ou jantar. Sou daquelas que pede ao garçom para trazer uma porção do biscoitinho que vem com o café. Na cara de pau; peço mesmo.

Um dia desses, passeando por Nolita, logo após ter almoçado com uma amiga, observei um aglomerado de pessoas em frente ao que parecia ser um café. De curiosa, quis entrar também pra ver o que de tão especial tinha lá. Ao entrar, antes mesmo de poder ver muita coisa, já entendi. O cheiro de café, misturado com um aroma doce de biscoito saindo do forno... hummm...  Não dava mesmo pra resistir.

O Ceci-Cela Pâtisserie fica em plena Spring Street, mas pode passar desapercebido num final de semana quando a Spring está lotada de nova-iorquinos e turistas. É pequeno e charmoso; bem como tem que ser.

E o legal é que tudo ali é oferecido em versão mini ou em pacotinhos individuais, perfeito para os gulosos como eu que não resistem à tentação, mas também precisam de um certo limite.

Recomendo de olhos fechados as línguas de gato, que devorei antes mesmo de virar a esquina da Lafayette e também as tuiles e madeleines. Não me permiti provar muito mais, mas pelo movimento e pelo aroma, arrisco dizer que tudo ali vale a pena.

Ceci-Cela Pâtisserie

Nolita

55 Spring Street

New York NY 10012

(Bet. Mulberry & Lafayette)

Tel. 212.274.9179

 

Tribeca

166 Chambers

New York NY 10017

(Bet. Broadway & Greenwich)

Tel. 212.566.8933

www.ceci-celapatisserie.com

 

sábado, 21 de junho de 2008

Um doce chique e versátil



Não sou uma grande fã de chocolate; mas, modéstia à parte, nem eu resisto à minha Ganache de Chocolate Amargo

Não é das sobremesas mais simples de se preparar, mas nada que um pouquinho de paciência não resolva. E o resultado, eu garanto, é uma sobremesa chique e versátil. 

Pode-se servir em fatias com um creme doce de baunilha e folhas de hortelã; cortar em quadradinhos e fazer uma crosta de amêndoas; ou até enrolar e passar no cacao em pó como se fosse trufa. Dá pra congelar e, mesmo na geladeira, dura até 2 semanas!

Há pouco tempo, precisei levar um doce para o aniversário de uma amiga super de última hora e não tive dúvida. Tirei a ganache que eu tinha do freezer, decorei com amêndoas e hortelã, comprei frutas frescas e tuiles e, em pouco tempo, eu tinha a sobremesa perfeita!


Ganache de Chocolate Amargo

 

  • 120g chocolate meio amargo
  • 6 gemas
  • 170 g açúcar mascavo
  • 300g manteiga s/ sal derretida
  • 180g cacau em pó s/ açúcar
  • 500g creme de leite grosso s/ soro

 

  1. Forre uma fôrma para pão retangular (aprox. 26cm comprimento) com filme plástico.
  2. Em uma panela, dissolva 50g de açúcar em 50ml de água. Leva à fervura por 2 minutos. Reserve.
  3. Trabalhe com a espátula, em fogo baixo, a manteiga derretida com o cacau em pó. Acrescente o restante do açúcar e o chocolate quebrado em pedaços pequenos. Misture bem e reserve.
  4. Faça um creme colocando as gemas em um recipiente fundo de inox sobre uma panela com água fervente em fogo baixo. Adicione, aos poucos, a calda de açúcar, batendo sempre com um mixer até encorpar.
  5. Deixe a mistura de gemas e açúcar esfriar e acrescente ao preparado de chocolate, batendo sempre até que a mistura fique fria e homogênea. 
  6.  Acrescente o creme de leite aos poucos e bata novamente para obter uma mistura cremosa.
  7. Despeje o preparado na fôrma e deixe na geladeira por, no mínimo 4hs ou de um dia para o outro.
  8. Desenforme, decore com folhas de hortelã e sirva em fatias finas com creme de baunilha.

 

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Da Silvano


O verão chegou com toda força em NY. Dá gosto de ver as ruas tomadas de gente e sentir a vibração da cidade. De repente, parece distante o inverno longo e rigoroso que tivemos e dá mesmo vontade de estar na rua, o tempo inteiro.

Neste clima de verão, a Vanity Fair publicou uma lista de bares e restaurantes com áreas abertas - “The All Acess Summer Guide `08” - e eu tive a sorte de receber a lista através de uma amiga bem relacionada. E me caiu como uma luva ontem a noite, quando me colocaram na pressão de escolher um restaurante para jantar.

Percorrendo a lista, descobri lugares novos e redescobri os carimbados. Dentre os carimbados, estava listado Da Silvano, famoso spot italiano de celebridades e fashionistas. Minha tendência é sempre procurar o não tão óbvio, mas não sei porque, ontem, quis conhecer o tão falado Da Silvano.

Meu primeiro contato foi ao telefone, tentando fazer uma reserva. Americanizada que estou, ignorei o fato de que falo italiano e deslanchei no inglês: “Hi, is it still possible to get a table for a party of 4 tonight?”. Wrong move. O italiano do outro lado da linha me respondeu num inglês propositalmente mal falado que não deu para entender nada.

Mesmo sem reserva, resolvemos arriscar. Chegamos lá por volta de 9:30 e o restaurante estava fervendo, todas as mesas lotadas. Ok. Falamos com o host, desta vez abrindo a conversa com um “buona sera” e fomos esperar. Sentamos num banco em frente ao restaurante e ficamos observando o movimento de gente que passava. Gente pra cá, gente pra lá e.... olha lá! Heidi Klum e Seal chegando para jantar. Nada mal.

Depois de uns 20 minutos de espera, passamos para a nossa mesa. O garçom era mexicano, mas mandava bem no italiano. Muito simpático. Escolhemos uma garrafa de vinho branco e optamos todas pelos especiais da noite. A Fabi e a Nanda foram de pacheri al sugo di vitello, a Joanne escolheu scaloppini di vitello e eu optei pelo linguini alle vongole.



Enquanto comíamos, a Nanda avistou ninguém menos que Mario Batali, o famoso chef e restauranteur italiano (ver postagem "Wanna meet at Bar Jamón?), sentado numa mesa no restaurante ao lado. Não pude acreditar! Era ele mesmo, no seu peso pesado, cabelos longos ruivos, bermuda e, é claro, sua marca registrada, o Crocs laranja. Heidi Klum e Seal ficaram no passado.

Resumo da noite, o Da Silvano é overpriced e a comida ok, mas sem dúvida vale a visita, especialmente num dia quente de verão, em que se pode sentar na rua e tomar um bom vinho com uma massa al dente, aguardando a próxima celebridade passar.

Da Silvano
260 6th Avenue
New York, NY 10014
Tel. 212.982.2343
www.dasilvano.com


quinta-feira, 5 de junho de 2008

Momofuku


Penso em comida a maior parte do meu dia. Penso nos restaurantes que fui ultimamente, na receita que li numa revista nova,  num show do Food Network que assisti. Combino ingredientes mentalmente e visualizo a apresentação final dos pratos. Sei que é meio doente, mas sou daquelas que já almoça pensando no jantar. Todos os dias.

E foi assim que ontem, sem exceção à regra, ao meio dia e trinta, eu decidi o menu do meu jantar.

Pensei em convidar alguém, mas resolvi ir sozinha mesmo. A grande maioria das pessoas acha depressivo jantar sozinho em público, mas eu não. E uma das vantagens de jantar sozinha é decidir onde ir e a que horas sem precisar consultar ninguém mais que a minha fome.

Às 6 da tarde, barriga roncando, cheguei ao Momofuku. O restaurante estava praticamente vazio, mas os garçons e chefs faziam tanto barulho ao fundo e me receberam tão entusiasticamente, que me senti acompanhada.

Sentei no balcão de onde se pode ver os chefs preparando a comida e não demorei para pedir. Minha intenção ontem não era descobrir novos pratos, mas reafirmar o que eu já sabia que era bom. I’ll have the ramen noodles with chicken, please.



Em poucos minutos, meu bowl de noodles estava na minha frente, bem como eu tinha imaginado seis horas mais cedo. Os noodles são servidos em um caldo de galinha super saboroso, cobertos com pedaços de galinha com pele crocante, cebolinha verde picada e baby bamboo cozido (não sei um equivalente em português, mas parace um gengibre mais macio) e um pedaço de alga.  É o tipo da comida que quero comer sem parar. É quente, macio, mas tem a  textura da galinha... hummm... E a melhor parte é tomar o caldo de colherinha no final.

Momofuku Noodle Bar é um dos 3 restaurantes do chef David Chang. A tradução literal de Momofuku é “pêssego sortudo” e o símbolo no logo dos restaurantes é de fato um pêssego. O mais novo dos 3 restaurantes se chama Ko e fica ao lado do Noodle Bar. Dizem que é maravilhoso e que é mais difícil conseguir reserva lá do que no Per Se. Vou ter que tentar.

Momofuku Noodle Bar

171 First Avenue  (entre as ruas 10 e 11)

New York, NY 10003

www.momofuku.com/noodle

 

Outros restaurantes de David Chang:

Momofuku Ko

163 First Avenue (entre as ruas 10 e 11)

New York, NY 10003

www.momofuku.com/ko

 

Momofuku Ssäm Bar

201 Second Avenue (esquina da rua 13)

New York, NY 10003

www.momofuku.com/ssam

Detalhe: O De Robertis (artigo passado – “Em busca do cannoli perfeito”) fica logo em frente!  

terça-feira, 3 de junho de 2008

Em busca do cannoli perfeito




Quando vim pra cá pela primeira vez, uma amiga me emprestou um guia de NY da Folha de SP antiguíssimo. Falo de 2005 e a edição era, provavelmente, de 90. 

No avião, vim lendo sobre a história da ilha, do porque dos nomes SOHO ou TRIBECA, da organização das ruas e, é claro, dos restaurantes.  Mesmo sabendo que aquelas informações estavam prá lá de desatualizadas, continuei lendo. Afinal, para passar o tempo num vôo de 9hs, vale tudo.

Entre uma lista de cafés e pastry shops, mencionavam o melhor cannoli da cidade. Meus olhos saltaram! Sou alucinada por cannoli desde minha primeira visita à Itália, quando tive o prazer de assistir a um chef siciliano preparar cannoli do início ao fim. E quando falo do início ao fim, quero dizer tirar o leite da vaca, preparar a ricota e tudo mais...

De Robertis era o nome da Pasticceria. Falavam da tradição do lugar, do quão maravilhoso era o cannoli, mas não davam telefone ou endereço.  Maldade aquilo... Agora eu estava sonhando com o cannoli sem saber onde encontrar ou mesmo se a pasticceria existiria ainda. Ok. Virei a página, deixei pra lá.

Chegando em NY, os estímulos foram tantos que acabei esquecendo do cannoli. Fui ficar no apartamento do meu namorado, no East Village, esquina da rua 10 com a Primeira Avenida. Ele estava de mudança para este apartamento e passamos os dias seguintes mobiliando, limpando, pintando.... Num desses dias, olhando pela janela da sala, me chamou a atenção um letreiro luminoso vermelho. Olhei melhor para ler o que dizia e não pude acreditar quando finalmente decifrei: De Robertis Pastry Shop.

Não sei como não rolei escada a baixo, tamanha foi a minha emoção e pressa em degustar o tal cannoli. Pedi primeiro um; e depois uma caixa!



Acabei indo morar naquele apartamento com meu namorado, que virou marido enquanto morávamos lá; e, durante um ano e meio em que lá ficamos, não lembro de uma semana em que eu não tenha parado ali para um cannoli e um expresso. E hoje eu posso dizer com orgulho que fui vizinha do melhor cannoli de NY!

De Robertis foi fundada em 1904, com o nome de Caffé Pugliese, em referência à cidade natal de Paolo DeRobertis, Puglia. Tendo resistido à guerras, depressões e recessões, De Robertis continua um sucesso e uma tradição para muitos "locais" de NY. John, filho de Paolo, juntamente com sua esposa Antoinette, seus 4 filhos e 11 netos trabalham diariamente para garantir qualidade e manter a tradição que já dura tantos anos. 

De Robertis Pasticceria e Caffé

176 First Avenue (entre as ruas 10 e 11)

New York, NY 10009

Tel. 212.674.7137

www.derobertiscaffe.com